INTRODUÇÃO
1.
Os
Textos
Marx e Engels nunca escreveram um texto
dedicado expressamente ao tema de ensino e educação. A partir de sua produção
não é possível “levantar” um sistema pedagógico ou educativo completo e
elaborado.
As afirmações sobre educação e ensino,
dificilmente podem nos servir para a atual polêmica em torno dos problemas do
ensino convertidas, mas nos servirão para um eventual debate sobre a índole e
as condições de um sistema de ensino distinto, capaz de contribuir para a
configuração de um horizonte histórico no qual as relações de dominação tenham
desaparecido.
Muitas destas opiniões e analises breves
surgiram como uma crítica as situações que o capitalismo e a manufatura tinham
produzido. A crítica se desprende do imediato e estabelece um marco de
referência bem distinto: uma sociedade sem classes, uma sociedade na qual todos
os cidadãos sejam iguais e as relações de dominação brilhem por sua ausência.
A emancipação dos indivíduos, sua
libertação das condições opressoras só poderia se dar quando tal emancipação
alcançasse todos os níveis, e, ente eles, o da consciência. Somente a educação,
a ciência e a extensão do conhecimento, o desenvolvimento da razão, pode
conseguir tal objetivo.
2.
Os
Temas
A divisão do trabalho consubstancial ao
processo de implantação do modo de produção capitalista é o eixo sobre o qual
se articulam as colocações de Marx e Engels, em torno da educação e do ensino.
A divisão do trabalho é, historicamente,
exigida pelo processo do trabalho manufatureiro ou industrial. Desta forma, a
ciência e os conhecimentos passam a ser propriedade do capital, e o trabalhador
encontra-se os enfrentando. Para Engels, pode-se deduzir duas conseqüências à
cerca desse ponto: por um lado, está na base do enfrentamento de classe; por
outro, é o fundamento de uma limitação do desenvolvimento do individuo.
É certo que com o desenvolvimento do
maquinismo, a ciência e a técnica se incorporam à máquina, e o desenvolvimento
desta introduzem uma série de exigências de qualificação da força de trabalho
que traz consigo a aparição, consolidação e auge do sistema escolar
institucionalizado.
Longe de introduzir um maior nível de
incultura, o capitalismo exigiu uma crescente capacidade intelectual de todos os
indivíduos, estendendo o sistema escolar, institucionalizando e aprofundando-o.
A pretensão de Marx e Engels não era de
terminar com a escola para voltar a uma instrução natural, mas sim ir à frente,
criticando a atual instituição escolar e mudá-la. Porém, não ignoraram que,
primeiro, esta situação teria de ser transitória e, segundo, que o
desenvolvimento cultural era necessário para a consolidação e posterior
desenvolvimento das forças produtivas.
Sua preocupação em introduzir um novo tipo
de ensino, unindo o trabalho manual ao intelectual, pretende estabelecer as
bases de um sistema novo que terminará com a ideologização da ciência e as estruturas
familiares e educativas estabelecidas. A situação que lhes interessa é a dos
trabalhadores e o modelo em que pensam é o de uma estrutura social onde os
trabalhadores tenham a hegemonia, onde desapareça a divisão de trabalho e a
felicidade substitua a necessidade.
O capital se apropria da força de trabalho
e a objetiva, a realiza a fim de gerar mais-valia. Com isso, o sistema de
ensino é entendido como uma concreta qualificação da força de trabalho que
alcançará seu aproveitamento máximo se conseguir também o ajuste e a integração
dos indivíduos no sistema. Dito de outra forma: reproduz o sistema dominante,
tanto a nível ideológico quanto técnico e produtivo.
É necessário assinalar que o aparato
escolar levantado pelo modo de produção capitalista se configura
ideologicamente não só em função dos componentes ideológicos que comporta, mas
também porque cria um marco de cisão onde a alienação da força de trabalho é um
fato natural. A educação não se produz somente no seio das disciplinas “não
úteis” que possam dividir-se nas chamadas matérias humanísticas, mas, muito
especialmente, na organização de todo sistema.
3.
Alguns
Temas Polêmicos
O desenvolvimento da revolução industrial
e o triunfo do liberalismo trouxeram consigo uma transformação fundamental do
aparato escolar. As necessidades tecnológicas produzidas por mudanças ocorridas
nas forças produtivas e, por outro lado, as exigências liberais de entender a
educação e o conhecimento como condição de igualdade ente todos os cidadãos
determinaram a institucionalização, extensão e profundização desse aparato. Nos
países em que isso foi possível, o ensino passou paulatinamente a depender do
Estado. Porém, somente no final do século, começa a consolidar-se um aparato
escolar de dependência estatal, gratuito e amplo, e somente em alguns países.
Desde o inicio viu-se que o ensino podia
converter-se em um dos meios fundamentais de dominação ideológica e, portanto,
em um instrumento essencial para alcançar e consolidar a hegemonia da classe no
poder.
As instituições tradicionais da sociedade
pré-capitalista européia, a família, o grêmio, a Igreja, entram em decadência.
Sua decadência acentuou-se pelo auge dos meios de comunicação de massas, que se
converteram no marco, por excelência, da reprodução. O analfabetismo, geral no
campo é muito extenso nos núcleos urbanos, tornava inviável o rápido
estabelecimento de tais meios. Nestas circunstâncias, o aparato escolar
apresentava vantagens obvias que foram imediatamente aproveitadas pela burguesia.
4.
Marx
e Engels como ponto de partida
As referências de Marx e Engels não
constituem nenhum sistema pedagógico, pois em todos os casos trata-se de
escapar às estritas limitações que coloca a educação entendida como mera
prática escolar. Se as opiniões de Marx e Engels não constituem um sistema,
estabelecem um marco e abrem vias por onde o sistema pode começar a
constituir-se.
A necessidade já incontestável de acabar
com uma educação e um ensino que se considera como adestramento da força de
trabalho, da integração social, da exploração, coloca em primeiro lugar a
adequação da leitura de Marx e Engels e de suas propostas em torno da
transformação mais radical da atual divisão de trabalho.
O ENSINO E A EDUCAÇÃO DA CLASSE
TRABALHADORA
O homem, como a máquina, se gasta e tem
que ser substituído por outro homem. Para o nosso objetivo basta-nos a
considerar o trabalho médio, cujos gastos de educação e aperfeiçoamento são
grandezas insignificantes.
Quanto menor for o tempo de formação
profissional exigido por um trabalho, menor será o custo de produção do
operário e mais baixo será o preço de seu trabalho, de seu salário. Nos ramos
industriais o preço de seu trabalho será determinado pelo preço dos meios de
subsistência necessários.
A miséria não só ensina o homem a rezar:
também ensina a pensar e a atuar. Porém, o trabalhador inglês, que apenas saber
ler e escrever sabe, no entanto, de forma muito clara, qual é o seu próprio
interesse e o de seu país – e sabe também qual é o interesse especifico da
burguesia e o que pode esperar.
As escolas não contribuem em nada, ou
quase nada, para a moralidade da classe trabalhadora. A burguesia inglesa é tão
cruel, tão estúpida e limitada em seu egoísmo que, inclusive, nem se preocupa
em incultar nos operários a moral atual, aquela que configura a burguesia em
seu próprio interesse e para sua própria defesa! É assim que os operários são
expulsos e desprezados do plano moral, psíquico e intelectual, pela classe do
poder.
O verdadeiro significado da educação, para
os economistas filantropos, é a formação de cada operário no maior número
possível de atividades industriais. A conseqüência seria a seguinte: se a mão
de obra é excedente em um setor industrial, este excedente se voltaria
imediatamente para os outros setores da indústria, de tal forma que a redução
de salários em um setor levaria seguramente a uma redução geral dos salários.
As idéias socialistas haviam penetrado de
tal maneira na juventude escolar russa, composta em sua maioria por filhos de
camponeses e gente pobre, que ela sonhava já com sua aplicação prática e
imediata. Este movimento se generalizava progressivamente nas escolas, enviando
à sociedade russa uma juventude pobre, saída da plebe, instruída e penetrada
pelas idéias socialistas.
Segundo Marx e Engels, a livre
socialização dos homens e a transformação do trabalho doméstico privado em
indústria pública provocam imediatamente a socialização da educação da
juventude e, portanto, uma relação recíproca realmente livre dos membros da
família.
Na sociedade socialista o trabalho e a
educação estarão interligados e que assim se assegurará uma cultura técnica
múltipla, bem como uma base prática para a educação cientifica; daí o motivo
por que, como de costume, se apressou a colocar este ponto ao serviço da
sociabilidade.
O parágrafo sobre as escolas deveria
exigir, pelo menos, escolas técnicas com as escolas públicas. Isso de “educação
popular a cargo do Estado” é completamente inadmissível. Longe disto, o que
deve ser feito é subtrair a escola de toda influência por parte do governo e da
Igreja. Eliminando o ensino religioso de todas as escolas públicas e
introduzindo simultaneamente a gratuidade do ensino, liberando todos os centros
escolares da tutela e da tirania do Governo, a ciência não só tornar-se-á
acessível para todos como também livrar-se-á da pressão governamental e dos
prejuízos de classe.
Para se educar, os jovens poderão recorrer
rapidamente todo o sistema produtivo, a fim de que possam passar sucessivamente
pelos diversos ramos da produção- segundo as diversas necessidades sociais e
suas próprias inclinações. Por ele, a educação os libertará do caráter
unilateral que imprime a cada individuo a atual divisão do trabalho.
Marx afirma que é necessário modificar as
condições sociais para criar um novo sistema de ensino; em contrapartida, falta
um sistema de ensino novo para poder modificar as condições sócias.
Referencia:
Marx e Engels. Introdução; O ensino e a educação da classe trabalhadora IN
textos sobre a Educação e Ensino. São Paulo: Editora Moraes, 1983.
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