quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Resumo - O Ensino e a Educação da classe trabalhadora.


INTRODUÇÃO
1.    Os Textos
     Marx e Engels nunca escreveram um texto dedicado expressamente ao tema de ensino e educação. A partir de sua produção não é possível “levantar” um sistema pedagógico ou educativo completo e elaborado.
     As afirmações sobre educação e ensino, dificilmente podem nos servir para a atual polêmica em torno dos problemas do ensino convertidas, mas nos servirão para um eventual debate sobre a índole e as condições de um sistema de ensino distinto, capaz de contribuir para a configuração de um horizonte histórico no qual as relações de dominação tenham desaparecido.
     Muitas destas opiniões e analises breves surgiram como uma crítica as situações que o capitalismo e a manufatura tinham produzido. A crítica se desprende do imediato e estabelece um marco de referência bem distinto: uma sociedade sem classes, uma sociedade na qual todos os cidadãos sejam iguais e as relações de dominação brilhem por sua ausência.
     A emancipação dos indivíduos, sua libertação das condições opressoras só poderia se dar quando tal emancipação alcançasse todos os níveis, e, ente eles, o da consciência. Somente a educação, a ciência e a extensão do conhecimento, o desenvolvimento da razão, pode conseguir tal objetivo.
 2.    Os Temas
     A divisão do trabalho consubstancial ao processo de implantação do modo de produção capitalista é o eixo sobre o qual se articulam as colocações de Marx e Engels, em torno da educação e do ensino.
     A divisão do trabalho é, historicamente, exigida pelo processo do trabalho manufatureiro ou industrial. Desta forma, a ciência e os conhecimentos passam a ser propriedade do capital, e o trabalhador encontra-se os enfrentando. Para Engels, pode-se deduzir duas conseqüências à cerca desse ponto: por um lado, está na base do enfrentamento de classe; por outro, é o fundamento de uma limitação do desenvolvimento do individuo.
    É certo que com o desenvolvimento do maquinismo, a ciência e a técnica se incorporam à máquina, e o desenvolvimento desta introduzem uma série de exigências de qualificação da força de trabalho que traz consigo a aparição, consolidação e auge do sistema escolar institucionalizado.
     Longe de introduzir um maior nível de incultura, o capitalismo exigiu uma crescente      capacidade intelectual de todos os indivíduos, estendendo o sistema escolar, institucionalizando e aprofundando-o.
     A pretensão de Marx e Engels não era de terminar com a escola para voltar a uma instrução natural, mas sim ir à frente, criticando a atual instituição escolar e mudá-la. Porém, não ignoraram que, primeiro, esta situação teria de ser transitória e, segundo, que o desenvolvimento cultural era necessário para a consolidação e posterior desenvolvimento das forças produtivas.
     Sua preocupação em introduzir um novo tipo de ensino, unindo o trabalho manual ao intelectual, pretende estabelecer as bases de um sistema novo que terminará com a ideologização da ciência e as estruturas familiares e educativas estabelecidas. A situação que lhes interessa é a dos trabalhadores e o modelo em que pensam é o de uma estrutura social onde os trabalhadores tenham a hegemonia, onde desapareça a divisão de trabalho e a felicidade substitua a necessidade.
     O capital se apropria da força de trabalho e a objetiva, a realiza a fim de gerar mais-valia. Com isso, o sistema de ensino é entendido como uma concreta qualificação da força de trabalho que alcançará seu aproveitamento máximo se conseguir também o ajuste e a integração dos indivíduos no sistema. Dito de outra forma: reproduz o sistema dominante, tanto a nível ideológico quanto técnico e produtivo.
     É necessário assinalar que o aparato escolar levantado pelo modo de produção capitalista se configura ideologicamente não só em função dos componentes ideológicos que comporta, mas também porque cria um marco de cisão onde a alienação da força de trabalho é um fato natural. A educação não se produz somente no seio das disciplinas “não úteis” que possam dividir-se nas chamadas matérias humanísticas, mas, muito especialmente, na organização de todo sistema.
 3.    Alguns Temas Polêmicos
     O desenvolvimento da revolução industrial e o triunfo do liberalismo trouxeram consigo uma transformação fundamental do aparato escolar. As necessidades tecnológicas produzidas por mudanças ocorridas nas forças produtivas e, por outro lado, as exigências liberais de entender a educação e o conhecimento como condição de igualdade ente todos os cidadãos determinaram a institucionalização, extensão e profundização desse aparato. Nos países em que isso foi possível, o ensino passou paulatinamente a depender do Estado. Porém, somente no final do século, começa a consolidar-se um aparato escolar de dependência estatal, gratuito e amplo, e somente em alguns países.
     Desde o inicio viu-se que o ensino podia converter-se em um dos meios fundamentais de dominação ideológica e, portanto, em um instrumento essencial para alcançar e consolidar a hegemonia da classe no poder.
     As instituições tradicionais da sociedade pré-capitalista européia, a família, o grêmio, a Igreja, entram em decadência. Sua decadência acentuou-se pelo auge dos meios de comunicação de massas, que se converteram no marco, por excelência, da reprodução. O analfabetismo, geral no campo é muito extenso nos núcleos urbanos, tornava inviável o rápido estabelecimento de tais meios. Nestas circunstâncias, o aparato escolar apresentava vantagens obvias que foram imediatamente aproveitadas pela burguesia.
4.    Marx e Engels como ponto de partida
     As referências de Marx e Engels não constituem nenhum sistema pedagógico, pois em todos os casos trata-se de escapar às estritas limitações que coloca a educação entendida como mera prática escolar. Se as opiniões de Marx e Engels não constituem um sistema, estabelecem um marco e abrem vias por onde o sistema pode começar a constituir-se.
     A necessidade já incontestável de acabar com uma educação e um ensino que se considera como adestramento da força de trabalho, da integração social, da exploração, coloca em primeiro lugar a adequação da leitura de Marx e Engels e de suas propostas em torno da transformação mais radical da atual divisão de trabalho.

O ENSINO E A EDUCAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA
      O homem, como a máquina, se gasta e tem que ser substituído por outro homem. Para o nosso objetivo basta-nos a considerar o trabalho médio, cujos gastos de educação e aperfeiçoamento são grandezas insignificantes.
     Quanto menor for o tempo de formação profissional exigido por um trabalho, menor será o custo de produção do operário e mais baixo será o preço de seu trabalho, de seu salário. Nos ramos industriais o preço de seu trabalho será determinado pelo preço dos meios de subsistência necessários.
     A miséria não só ensina o homem a rezar: também ensina a pensar e a atuar. Porém, o trabalhador inglês, que apenas saber ler e escrever sabe, no entanto, de forma muito clara, qual é o seu próprio interesse e o de seu país – e sabe também qual é o interesse especifico da burguesia e o que pode esperar.
     As escolas não contribuem em nada, ou quase nada, para a moralidade da classe trabalhadora. A burguesia inglesa é tão cruel, tão estúpida e limitada em seu egoísmo que, inclusive, nem se preocupa em incultar nos operários a moral atual, aquela que configura a burguesia em seu próprio interesse e para sua própria defesa! É assim que os operários são expulsos e desprezados do plano moral, psíquico e intelectual, pela classe do poder.
     O verdadeiro significado da educação, para os economistas filantropos, é a formação de cada operário no maior número possível de atividades industriais. A conseqüência seria a seguinte: se a mão de obra é excedente em um setor industrial, este excedente se voltaria imediatamente para os outros setores da indústria, de tal forma que a redução de salários em um setor levaria seguramente a uma redução geral dos salários.
     As idéias socialistas haviam penetrado de tal maneira na juventude escolar russa, composta em sua maioria por filhos de camponeses e gente pobre, que ela sonhava já com sua aplicação prática e imediata. Este movimento se generalizava progressivamente nas escolas, enviando à sociedade russa uma juventude pobre, saída da plebe, instruída e penetrada pelas idéias socialistas.
     Segundo Marx e Engels, a livre socialização dos homens e a transformação do trabalho doméstico privado em indústria pública provocam imediatamente a socialização da educação da juventude e, portanto, uma relação recíproca realmente livre dos membros da família.
     Na sociedade socialista o trabalho e a educação estarão interligados e que assim se assegurará uma cultura técnica múltipla, bem como uma base prática para a educação cientifica; daí o motivo por que, como de costume, se apressou a colocar este ponto ao serviço da sociabilidade.
     O parágrafo sobre as escolas deveria exigir, pelo menos, escolas técnicas com as escolas públicas. Isso de “educação popular a cargo do Estado” é completamente inadmissível. Longe disto, o que deve ser feito é subtrair a escola de toda influência por parte do governo e da Igreja. Eliminando o ensino religioso de todas as escolas públicas e introduzindo simultaneamente a gratuidade do ensino, liberando todos os centros escolares da tutela e da tirania do Governo, a ciência não só tornar-se-á acessível para todos como também livrar-se-á da pressão governamental e dos prejuízos de classe.
     Para se educar, os jovens poderão recorrer rapidamente todo o sistema produtivo, a fim de que possam passar sucessivamente pelos diversos ramos da produção- segundo as diversas necessidades sociais e suas próprias inclinações. Por ele, a educação os libertará do caráter unilateral que imprime a cada individuo a atual divisão do trabalho.
     Marx afirma que é necessário modificar as condições sociais para criar um novo sistema de ensino; em contrapartida, falta um sistema de ensino novo para poder modificar as condições sócias.

Referencia: Marx e Engels. Introdução; O ensino e a educação da classe trabalhadora IN textos sobre a Educação e Ensino. São Paulo: Editora Moraes, 1983.

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