quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Como as Crianças Aprendem a Ler e a Escrever?


Escrever é interagir. Entendemos que interage aquele que tem o que dizer a quem dizer, por que dizer e para quem dizer.  Sendo assim, interage aquele que está em contato com o mundo; aqueles que pegam ônibus compram algo, observam os lugares.. Ler é possibilitar a comunicação entre o individuo e a sociedade. Para formar um escritor competente é preciso, apostar em uma proposta educativa com base no diálogo, na formação de cidadãos que tenham liberdade para ler, escrever e interpretar o mundo, para refletir e criticar a realidade. É através da ação do sujeito que a informação se transforma em conhecimento próprio, resultado da ampliação, da diversificação e do aprofundamento do conhecimento prévio do aluno.
A leitura e a escrita são práticas complementares. É por meio da prática de leitura que os alunos adquirem competência na produção de seus textos, conforme a análise dos recursos linguísticos e a própria organização do gênero discursivo contribuem para aprimorar a qualidade dos textos produzidos. Desde o contato inicial com a escrita, a criança precisa vivenciar a experiência da autoria. Através da intimidade com a produção de textos, com a leitura dos textos dos colegas, com outros textos presentes no cotidiano e levado para a sala de aula é que o aluno tem oportunidades de internalizar as particularidades do código, da “norma culta” que lhes será apresentada, mas que não desfavorecerá o potencial linguístico que carregam consigo ao entrar na escola.

I.              A teoria da psicogênese da língua escrita

O estudo tradicional de alfabetização nas escolas tem como base a leituras de cartilhas com as letras do alfabeto, sílabas simples e complexas e exercícios mecânicos para auxiliar os alunos no processo de leitura e escritas das palavras. Estudos desenvolvidos por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky contribuíram para explicar como se dá o processo de aprendizagem da escrita. Elas esclarecem a partir da teoria da psicogênese da língua escrita que o indivíduo constrói a representação da fala a partir de uma construção mental e não necessariamente, de métodos de aprendizagem. Segundo Artur Gomes de Morais – Universidade Federal de Pernambuco, que discuti o assunto com base em FERREIRO e TEBEROSKY diz “Se nas salas de aulas os alunos conseguem aprender com o método A ou B, ou com a mistura de vários, isso não quer dizer que os autores de métodos (e os docentes ou estudiosos que os empregam) estariam compreendendo adequadamente como a criança internaliza a escrita alfabética e como essa funciona”.
Os estudos da psicogênese da língua escrita trouxeram aos educadores o entendimento de que a alfabetização, longe de ser a apropriação de um código, envolve um complexo processo de elaboração de hipótese sobre a representação linguística. O escritor da Universidade de Pernambuco em seu texto informa que a teoria da psicogênese tem mostrado que, a escrita alfabética tem uma série de propriedade que o aprendiz precisa compreender. Por melhor que seja o ensino é o aprendiz quem opera tais transformações.
 A decodificação e a compreensão do texto andam juntas. Ensinar os alunos a escrever é ensiná-los a produzir textos em situação real de comunicação. O desenvolvimento da escrita na escola não deve se caracterizar apenas como a representação gráfica do som das letras, ao contrário deve atender à linguagem dos diferentes sujeitos e dos grupos sociais em se inscreve, criando situações em sala de aula que realmente possam ampliar e diversificar a experiência de cada um.

II.            A leitura e o seu processo

A leitura é um ato social, entre dois sujeitos – leitor e autor – que interagem entre si – Ângela Kleiman. O trabalho com a leitura pressupõe do (s) significado (s) do texto. A leitura estabelece uma troca, um diálogo entre autor e leitor. A escola deve se preocupar em garantir que os alunos busquem esse significado e que essa busca esteja sempre entrelaçada ao desejo de ler. Ao entrar na escola, os alunos já têm enormes bagagens de conhecimentos prévios que são imprescindíveis às suas leituras dentro (e fora) do ambiente escolar.
Na escola é bastante comum o professor pedir que o aluno informe as letras do alfabeto, soletre as sílabas ou digam algumas palavra e avaliam parcialmente o nível de leitura que provavelmente os alunos possam estar. Deve-se refletir seriamente a respeito da adequação dessa modalidade de leituras nos anos iniciais do ensino escolar; afinal, muito mais do que ensinar a ler, ela “cobra” a habilidade de os alunos já saberem ler sozinhos. Assim como a escrita, a leitura passa por etapas. Ela passa por processo inicial, estágio de desenvolvimento e sua etapa final – o leitor competente. Em A abordagem cognitiva de Ana Cecília Oñativia, a autora mostrar os processos da leitura em paralelo com a escrita. O aluno passa pelo processo de reconhecimento e compreensão de palavras faladas, pela rota visual/lexical (percurso realizado no ato da leitura que implica o acesso à palavra impressa inicialmente pelo léxico visual e pelo sistema semântico) e pela rota fonológica (percurso realizado no ato da leitura que implica a correspondência grafema-fonema).
Durante muito tempo, a leitura era entendida simplesmente como ato de decodificação, em que se convertiam letras em sons. O ato de ler é um processo de atribuição de sentido, isto é, a partir de conhecimentos que já possui, o leitor interage com o texto, construindo significado “a leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, do conhecimento que já possui a respeito do assunto, do autor e do que se sabe sobre a língua – Para ensina a ler de Rosaura Soligo.
O processo da leitura envolve o uso de estratégias, ou seja, ações pelas quais o leitor guia sua leitura. Ana Cecília Oñativia aponta três estratégias básicas para lidar com a palavra no processo de alfabetização, que a criança passa à medida que evoluem: estratégia logográfica – as palavras são identificadas globalmente usando pistas, estratégia fonológica – implica analisar as palavras em seus componentes (sílabas, letras e fonemas) e estratégia lexical – identifica as palavras por sua forma e seu significado.
Formar leitores proficientes deve ser objetivo da escola. A capacidade de ler criticamente garante ao individuo condições de interferir no meio em que está inserida, podendo, inclusive, transformar sua realidade “Um leitor competente é aquele capaz de fazer uso das três estratégias de leituras, dependendo da situação, sempre que ela lhe permita alcançar seu objetivo: ler, e entender a mensagem ou escrever e se fazer entender - Ana Cecília Oñativia.

Referências

MORAIS, Artur Gomes de. A pesquisa psicolingüística de tipo construtivista e a formação de alfabetizadores no Brasil: contribuições e questões atuais.
OÑATIVIA, Ana Cecília. A abordagem cognitiva.
SOLIGO, Rosaura. Para ensinar a ler.
KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas, Pontes, 1989.

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