domingo, 16 de dezembro de 2012

Memória Popular: A Escrita de cór


"A oralidade, a leitura e a escrita são atividades integradas e complementares, sendo que o primeiro contato da criança com o texto se dá através da narração oral, independentemente de estar ou não vinculada ao livro."
Gloria Radino

Introdução
De acordo com Soares (2001), alfabetizar letrando significa ensinar a língua escrita no contexto dos usos da linguagem nas práticas sociais de leitura e escrita, tornando a linguagem interlocutora do processo. Desta forma, o ensino da língua escrita deve considerar que os discursos se organizam em textos – orais ou escritos – que se configuram em gêneros diversos, e a escola deve partir desses textos, da linguagem em uso, para desenvolver capacidades de leitura e produção textual com funções e formas distintas. Nesse sentido, pode-se afirmar que quando o educando tem a oportunidade de usar e conhecer práticas de leitura e escrita da sociedade em que está inserido, seu processo de letramento se inicia antes de seu domínio do sistema alfabético de escrita.
A discussão em torno do letramento tomou forma a partir das proposições de alfabetização que aliassem ao processo de compreensão do sistema de escrita alfabético à compreensão dos usos da escrita, a sua organização em gêneros diversos com funções e formas diferentes e as particularidades do discurso escrito, definindo que a escrita é um sistema de notação alfabética  de base fonológica e ortográfica, mas é também uma prática social e discursiva complexa.
Diante dos questionamentos acerca do processo específico de alfabetização, ocasionados pela discussão sobre o letramento, a alfabetização passou a ser vista no âmbito de uma concepção não empirista, não associacionista de ensino e aprendizagem, que considera os conhecimentos e as hipóteses dos educandos em torno da natureza, das propriedades e do funcionamento do sistema alfabético de escrita. Os conhecimentos, as concepções, as representações dos alfabetizandos a respeito da escrita – do sistema notacional ou dos aspectos discursivos – passaram a ser considerados como importantes no ensino.
É preciso considerar que não é possível passar a uma perspectiva que negligencie o processo de apropriação do sistema em prol do letramento apenas. Nesse sentido, é preciso assegurar o domínio do sistema alfabético, que se dá progressivamente  através das reflexões que o aluno faz, em suas interações com este objeto de conhecimento e com os outros, a respeito da natureza e funcionamento da escrita, em toda sua complexidade, focando seus vários níveis, as diversas unidades da língua – fonemas, sílabas, palavras, fra­ses, textos – e os diversos sistemas semióticos que a acompanham.
A alfabetização com textos – ou seja, alfabetização em contexto de letramento – implica em usar os textos para fruir de sua leitura, se informar, se divertir, conhecer, dentre outras funções e objetivos relativos ao letra­mento, ou seja, para letrar-se, mas também para refletir sobre o sistema de escrita alfabética, que é o que possibilita as práticas de leitura e escrita autônoma e a ampliação das possibilidades de letramento. Ora, a escrita é uma prática social e discursiva, mas é também um sistema de notação que precisa ser focalizado, ensinado, a partir de intervenções que favoreçam a reflexão sobre seu funcionamento e propriedades. Há uma abordagem necessária do sistema de escrita, na medida do possível, em contextos de uso da linguagem.
Materiais como parlendas fatiadas, adivinhas em fichas com quatro opções de respostas para escolher a que respon­de à pergunta, fichas com expressões idiomáticas e provérbios populares para ler e montar as partes, registro e recriações de textos conhecidos dentre muitos outros, são algumas das possibilidades propostas nesse projeto que se apoia na união entre oral e escrito, tradicional e novo para alfabetiza letrando.

 Justificativa
A utilização de textos da tradição oral no processo de alfabetização favorece a reflexão sobre a língua e sobre o sistema de escri­ta alfabética. São, por sua natureza e características – curtos, facilmente memorizáveis, sonoros – gêneros de textos privilegiados para a alfabe­tização, pois favorecem a reflexão sobre o sistema de escrita alfabética, bem como constituem-se em expressões orais genuínas que circulam na sociedade. Além disso, esses textos permitem o estabelecimento de um vínculo pra­zeroso com a leitura e a escrita, por sua natureza lúdica. Quanto às experiências desse repertório para alfabetizar letrando, têm-se experimentado o seu uso em diversas ocasiões, com um retorno muito positivo do aprendizado.
Essa proposta constitui-se numa busca por uma prática pedagógica que alie a ideia de alfabetização em contexto de letramento e da leitura e escrita como práticas sóciodiscursivas, valorizando o uso de textos reais, as estratégias diversas de leitura, a escrita, sem perder de vista a reflexão sistemática e sistematizada sobre as unidades da língua, a reflexão fono­lógica e fonográfica, enfim, a apropriação das propriedades básicas do sistema alfabético.

Objetivo Geral
Proporcionar uma experiência de alfabetização numa perspectiva de letramento a partir de textos da tradição oral – conhecidos por professores/estudantes – com vistas à ampliação de seu repertório, à vivência e discussão sobre a importân­cia de aprender a dizê-los, a memorizá-los, a brincar com eles, a recorrer a eles em diversas situações, bem como à produção efetiva de materiais a partir deles em oficinas.

Objetivos Específicos

Problemática
A prática pedagógica em nossas escolas públicas, em muitos casos, não corresponde às teorias pedagógicas apresentadas pela academia. Nesse sentido, se faz necessário um olhar mais próximo a essa prática, para que seja possível compreender de que forma nossos alunos estão aprendendo.
No que tange a aquisição da língua escrita é necessário estar atento a muitas questões, tendo em vista que o processo de alfabetização necessita estar imbricado na tarefa de letrar. Nesse sentido, podemos questionar: Como se dá o processo de letramento em nossas escolas?
É sabido que tanto a oralidade quanto a escrita são usadas paralelamente em contextos sociais básicos da vida cotidiana, sejam esses formais ou informais, como na família, escola, trabalho, sendo que seus objetivos de usos se apresentam de forma diversa com intensidades variadas. Assim, podemos questionar: De que forma é possível aliar propostas de alfabetização, em contexto de letramento, com prática de leitura e escrita enquanto práticas sóciodiscursivas?

Metodologia
Realizar atividades de leitura e/ou escrita que utilizem textos da cultura oral como mediadores do processo de alfabetização num contexto de letramento.
Propor a elaboração e produção de vídeos tematizados pelo gênero textual explorado por cada turma.

Plano de ação
1º Momento
 Apresentação da proposta aos alunos e introdução ao tema (cada grupo de estagiários interage com sua respectiva turma).
- Execução de atividade de leitura e/ou escrita relacionada ao tema da turma junto aos alunos, propondo a produção de um vídeo como consequência do contato com o gênero textual abordado.

 2º Momento

-  Produção dos alunos do material a ser utilizado na animação (propor a criação de imagens, textos, formato e roteiro do vídeo).
 Serão organizadas quatro oficinas de leitura e/ou escrita, norteadas por subtemas, a saber:
·      A leitura através da canção popular.
·      Cordel
·      Poesias e Parodias
·       Parlendas

 3º Momento
Exposição das atividades de cada turma para toda a escola, com o tema, propondo a mostra de vídeo: “MEMÓRIA POPULAR: A ESCRITA DE CÓR”

  Referencias

BAKHTIN, Mikhail.  Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981, 7ª ed.
ARAUJO, Liane Castro de. ... Quem os desmafagafizar bom desmafagafizador será : textos da tradição oral na alfabetização / Liane Castro de Araujo, Mary Arapiraca. - Salvador: EDUFBA, 2011.
PRETTO, Nelson De Luca. Uma escola sem/com futuro: educação e multimídia. Campinas: Papirus, 1996.
RADINO, Gloria. Oralidade, um estado de escritura. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 6, n. 2, p. 73-79, jul./dez. 2001
Soares, Magda B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o descobrimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991.


Produzido por: Carlos Chagas Filho, Danilo Silva, Gisele Evangelista, Géssica Lima, Jéssica Hanna, Juliana Arouca, Marilene, Vanderson Silva, Vera Sena



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