"A oralidade, a leitura e a escrita são atividades integradas e
complementares, sendo que o primeiro contato da criança com o texto se dá
através da narração oral, independentemente de estar ou não vinculada ao livro."
Gloria Radino
Introdução
De acordo com Soares (2001), alfabetizar letrando significa
ensinar a língua escrita no contexto dos usos da linguagem nas práticas sociais de leitura e escrita, tornando a linguagem interlocutora do processo. Desta
forma, o ensino da língua escrita deve considerar que os discursos se
organizam em textos – orais ou escritos – que se configuram em gêneros
diversos, e a escola deve partir desses textos, da linguagem em uso, para
desenvolver capacidades de leitura e produção textual com funções e formas
distintas. Nesse sentido, pode-se afirmar que quando o educando tem a
oportunidade de usar e conhecer práticas de leitura e escrita da sociedade em
que está inserido, seu processo de letramento se inicia antes de seu domínio do
sistema alfabético de escrita.
A discussão em torno do letramento tomou
forma a partir das proposições de alfabetização que aliassem ao processo de
compreensão do sistema de escrita alfabético à compreensão dos usos da escrita, a sua organização em gêneros diversos
com funções e formas diferentes e as particularidades do discurso escrito,
definindo que a escrita é um sistema de notação alfabética de base fonológica
e ortográfica, mas é também uma prática social e discursiva complexa.
Diante dos
questionamentos acerca do processo específico de alfabetização, ocasionados
pela discussão sobre o letramento, a alfabetização passou a ser vista no âmbito
de uma concepção não empirista, não associacionista de ensino e aprendizagem,
que considera os conhecimentos e as hipóteses dos educandos em torno da
natureza, das propriedades e do funcionamento do sistema alfabético de escrita.
Os conhecimentos, as concepções, as representações dos alfabetizandos a respeito da escrita – do sistema notacional ou dos aspectos discursivos – passaram a
ser considerados como importantes no ensino.
É preciso considerar que não
é possível passar a uma perspectiva que negligencie o processo de apropriação
do sistema em prol do letramento apenas. Nesse sentido, é preciso assegurar o
domínio do sistema alfabético, que se dá progressivamente através das
reflexões que o aluno faz, em suas interações com este objeto de conhecimento e
com os outros, a respeito da natureza e funcionamento da escrita, em toda sua
complexidade, focando seus vários níveis, as diversas unidades da língua –
fonemas, sílabas, palavras, frases, textos – e os diversos sistemas semióticos
que a acompanham.
A alfabetização com textos –
ou seja, alfabetização em contexto de letramento – implica em usar os textos
para fruir de sua leitura, se informar, se divertir, conhecer, dentre outras
funções e objetivos relativos ao letramento, ou seja, para letrar-se, mas
também para refletir sobre o sistema de escrita alfabética, que é o que
possibilita as práticas de leitura e escrita autônoma e a ampliação das
possibilidades de letramento. Ora, a escrita é uma prática social e discursiva,
mas é também um sistema de notação que precisa ser focalizado, ensinado, a
partir de intervenções que favoreçam a reflexão sobre seu funcionamento e
propriedades. Há uma abordagem necessária do sistema de escrita, na medida do
possível, em contextos de uso da linguagem.
Materiais como parlendas fatiadas,
adivinhas em fichas com quatro opções de respostas para escolher a que responde
à pergunta, fichas com expressões idiomáticas e provérbios populares para ler e
montar as partes, registro e recriações de textos conhecidos dentre muitos
outros, são algumas das possibilidades propostas nesse projeto que se apoia na
união entre oral e escrito, tradicional e novo para alfabetiza letrando.
Justificativa
A utilização de textos da tradição
oral no processo de alfabetização favorece a reflexão sobre a língua e sobre o
sistema de escrita alfabética. São, por sua natureza e características –
curtos, facilmente memorizáveis, sonoros – gêneros de textos privilegiados para
a alfabetização, pois favorecem a reflexão sobre o sistema de escrita
alfabética, bem como constituem-se em expressões orais genuínas que circulam na
sociedade. Além disso, esses textos permitem o estabelecimento de um vínculo
prazeroso com a leitura e a escrita, por sua natureza lúdica. Quanto às
experiências desse repertório para alfabetizar letrando, têm-se experimentado o
seu uso em diversas ocasiões, com um retorno muito positivo do aprendizado.
Essa proposta constitui-se
numa busca por uma prática pedagógica que alie a ideia de alfabetização em
contexto de letramento e da leitura e escrita como práticas sóciodiscursivas,
valorizando o uso de textos reais, as estratégias diversas de leitura, a
escrita, sem perder de vista a reflexão sistemática e sistematizada sobre as
unidades da língua, a reflexão fonológica e fonográfica, enfim, a apropriação
das propriedades básicas do sistema alfabético.
Objetivo Geral
Proporcionar uma
experiência de alfabetização numa perspectiva de letramento a partir de textos
da tradição oral – conhecidos por professores/estudantes – com vistas à
ampliação de seu repertório, à vivência e discussão sobre a importância de
aprender a dizê-los, a memorizá-los, a brincar com eles, a recorrer a eles em
diversas situações, bem como à produção efetiva de materiais a partir deles em
oficinas.
Objetivos Específicos
Problemática
A prática pedagógica em nossas escolas públicas, em muitos casos, não
corresponde às teorias pedagógicas apresentadas pela academia. Nesse sentido,
se faz necessário um olhar mais próximo a essa prática, para que seja possível
compreender de que forma nossos alunos estão aprendendo.
No que
tange a aquisição da língua escrita é necessário estar atento a muitas
questões, tendo em vista que o processo de alfabetização necessita estar
imbricado na tarefa de letrar. Nesse sentido, podemos questionar: Como se dá o
processo de letramento em nossas escolas?
É sabido
que tanto a oralidade quanto a escrita são usadas paralelamente em contextos
sociais básicos da vida cotidiana, sejam esses formais ou informais, como na
família, escola, trabalho, sendo que seus objetivos de usos se apresentam de
forma diversa com intensidades variadas. Assim, podemos questionar: De que
forma é possível aliar propostas de alfabetização, em contexto de letramento,
com prática de leitura e escrita enquanto práticas sóciodiscursivas?
Metodologia
- Realizar atividades
de leitura e/ou escrita que utilizem textos da cultura oral como mediadores do
processo de alfabetização num contexto de letramento.
- Propor a elaboração
e produção de vídeos tematizados pelo gênero textual explorado por cada turma.
Plano
de ação
1º
Momento
- Apresentação da proposta aos alunos e introdução
ao tema (cada grupo de estagiários interage com sua respectiva turma).
- Execução de atividade de leitura e/ou
escrita relacionada ao tema da turma junto aos alunos, propondo a produção de
um vídeo como consequência do contato com o gênero textual abordado.
2º
Momento
- Produção dos alunos do material a ser
utilizado na animação (propor a criação de imagens, textos, formato e roteiro
do vídeo).
- Serão
organizadas quatro oficinas de leitura e/ou escrita, norteadas por subtemas, a
saber:
· A
leitura através da canção popular.
· Cordel
· Poesias e Parodias
· Parlendas
3º Momento
- Exposição das atividades de cada turma
para toda a escola, com o tema, propondo a mostra de vídeo: “MEMÓRIA POPULAR: A ESCRITA DE CÓR”
Referencias
BAKHTIN, Mikhail.
Marxismo e filosofia da
linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981, 7ª ed.
ARAUJO, Liane Castro de. ... Quem os desmafagafizar bom desmafagafizador será : textos da
tradição oral na alfabetização / Liane Castro de Araujo, Mary Arapiraca. -
Salvador: EDUFBA, 2011.
PRETTO, Nelson De Luca. Uma escola sem/com futuro: educação e multimídia. Campinas:
Papirus, 1996.
RADINO, Gloria. Oralidade, um estado de escritura.
Psicologia em Estudo, Maringá, v. 6, n. 2, p. 73-79, jul./dez. 2001
Soares, Magda B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,
2003.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o descobrimento dos processos psicológicos
superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Produzido por: Carlos Chagas Filho, Danilo Silva, Gisele Evangelista, Géssica Lima, Jéssica Hanna, Juliana Arouca, Marilene, Vanderson Silva, Vera Sena
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